O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do Banco Central (BC), com os dados relativos ao 1º semestre de 2022, assinalou que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) segue sólido, estável e com as condições necessárias para a expansão da oferta de crédito. Apesar do aumento das operações de empréstimos e da deterioração das condições financeiras no período, o nível de provisionamento mostrava-se adequado para cobrir o total de perda esperada. O sistema bancário continuava a exibir elevada rentabilidade e o lucro líquido estava em crescimento.
A Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF), realizada em agosto, indicava um aumento na confiança do SFN, mesmo com a piora no cenário internacional. Em linha com o bom desempenho da economia, os respondentes assinalaram os riscos fiscais como os mais importantes e, também a redução nos riscos da inadimplência e para a atividade.
Desde o último REF, as condições financeiras internacionais pioraram, com a pressão inflacionária e o aumento nas taxas de juros nas principais economias. As dúvidas quanto à capacidade de crescimento nos EUA, China e Zona do Euro intensificaram os temores de recessão, adicionando volatilidade aos mercados. A alta no risco sistêmico levou vários países a aumentarem o Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCP).
Mesmo com a alta nos custos de captação, o SFN segue com liquidez adequada para o funcionamento da intermediação financeira. O perfil das captações se alterou para aplicações mais longas e rentáveis. O crédito amplo mostrava dinamismo adequado aos fundamentos, favorecido pelas operações no mercado de capitais, com preponderância das operações com grandes empresas.
O crédito bancário para pessoas físicas (PF) também tem ajudado a impulsionar o mercado de crédito, já os empréstimos para pessoas jurídicas (PJ) e o mercado externo contribuem negativamente no hiato do crédito que fechou o 1º semestre em 2,14% do PIB, acima do limite sugerido pelo Comitê de Basileia opara a sinalização de um eventual crescimento excessivo do crédito e demandar ações macroprudenciais. Apesar das limitações dessa métrica, o indicador merece monitoramento, principalmente nas linhas de crédito mais arriscadas.
As instituições financeiras (IFs) aumentaram o apetite ao risco em suas concessões, como se pode ver na redução dos scores médios de linhas voltadas ao consumo e pagamentos para PF. O forte crescimento das modalidades de cartão de crédito e de crédito pessoal não consignado em descompasso com as variáveis do mercado de trabalho e renda preocupa. Da mesma forma, o ritmo acelerado da expansão do crédito para as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) gera riscos potenciais, dado que o segmento é bem sensível ao ciclo econômico. A materialização do risco que já ocorre, como demonstra no aumento da parcela dos Ativos Problemáticos (AP) na carteira ativa total nessas modalidades, deve se aprofundar com a desaceleração da atividade.
O crescimento dos AP levou ao aumento das despesas de provisão. Entretanto, o índice de cobertura ainda se mostrou confortável, suficiente para cobrir as perdas esperadas. Nos empréstimos para PF, a evolução dos AP para a faixa de renda até 2 salários mínimos é bem desfavorável, o que requer atenção para a qualidade das concessões. No 1º semestre, a rentabilidade do sistema e o crescimento do lucro líquido mantiveram-se estáveis. A margem líquida de juros ficou praticamente estável, com a queda da margem de crédito, decorrente da alta no custo de captação compensada pela elevação na margem de tesouraria e pela renovação da carteira com taxas mais elevadas.
Por fim, o SFN segue capitalizado, com os requerimentos de capital em níveis bem acima do mínimo exigido, dando suporte para a evolução do mercado de crédito. Os testes de estresse indicaram que não há ocorrência de desenquadramentos relevantes nos cenários macroeconômicos adversos. As análises de sensibilidade apontaram baixa necessidade de capital, mesmo no caso de os ativos problemáticos alcançarem a máxima histórica.
Boa leitura!