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Tendências de remuneração executiva na América Latina 2024

A consultoria global Mercer, durante a reunião da Comissão de Recursos Humanos da ABBC em outubro, trouxe uma análise abrangente sobre as tendências de remuneração para cargos de alta gestão na América Latina em 2024. A apresentação, conduzida pelo diretor executivo da Mercer, Roberto Rossetto, enfatizou as práticas regionais, as dinâmicas de incentivos e benefícios. Também apresentou um comparativo entre o Brasil e outras nações da região, além de referenciar as práticas globais.

Rossetto iniciou destacando o Brasil como referência de vanguarda em remuneração executiva. Ele apontou que o país apresenta práticas consolidadas e avançadas em relação a grandes mercados da região, como México e Argentina, com ênfase especial no setor financeiro. Segundo ele, essa liderança está ligada às diretrizes do Banco Central, como a Resolução 3921, que regula a governança das políticas de remuneração para instituições financeiras.

A Mercer adota uma abordagem abrangente e personalizada para atender a diversas indústrias, destacou o diretor, com especial atenção ao segmento financeiro, onde as práticas de remuneração executiva são mais sofisticadas. “O setor bancário no Brasil tem sido um modelo para outros países, com pacotes de remuneração bem estruturados que incluem componentes de curto e longo prazo”, afirmou o executivo.

Ao detalhar os componentes de um pacote de remuneração total, Rossetto explicou que o salário base reflete o valor atribuído à posição ocupada e deve garantir uma qualidade de vida adequada para o executivo. Ele ressaltou que o mercado brasileiro segue metodologias consolidadas, como as da Mercer e de outras consultorias, para definir esse valor.

Sobre os incentivos, o executivo explicou que os de curto prazo, como bônus, baseiam-se em metas passadas, enquanto os incentivos de longo prazo (LTIs – Long-Term Incentives) estão vinculados a metas futuras. Ele alertou para a necessidade de evitar a sobreposição de indicadores de curto e longo prazo, que pode comprometer a eficácia dos programas de remuneração.

No que se refere aos benefícios, foi mencionado que, no nível executivo, eles costumam ter menor relevância, especialmente no setor financeiro, onde os salários são mais elevados e os executivos tendem a arcar com despesas adicionais que, em outros setores, como o farmacêutico, são oferecidas como benefícios.

Os desafios econômicos da América Latina também foram abordados, com destaque para a Argentina, onde a inflação tem impactado drasticamente os salários, projetados para crescer 177% em 2024. No Brasil, o cenário é mais estável, com inflação controlada, embora haja preocupações com possíveis mudanças, como o aumento da taxa de juros e o retorno da pressão inflacionária.

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Rosseto mostra aos membros da Comissão de RH da ABBC as variações de salário e inflação em alguns países sul-americanos participantes da pesquisa global da consultoria Mercer

Durante a apresentação foi destacada a desvalorização cambial como um fator que afeta o poder de compra dos executivos brasileiros em comparação a seus pares globais, agravada pela constante queda do real frente ao dólar.

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As variações dos salários dos executivos com relação à desvalorização trazida pelo câmbio

As tendências apresentadas pela Mercer baseiam-se em uma pesquisa ampla, envolvendo mais de mil empresas de diferentes setores na América Latina, com destaque para as 125 do segmento de alta gestão. As empresas de capital aberto, segundo Rossetto, possuem governança mais robusta, especialmente no que tange aos incentivos de longo prazo.

A apresentação concluiu com uma visão otimista para o futuro da remuneração executiva na América Latina, apesar dos desafios econômicos. Rossetto reforçou que o Brasil continua sendo uma referência importante e que as empresas locais estão cada vez mais alinhadas com práticas globais de remuneração, garantindo um ambiente competitivo e atrativo para executivos de alto nível.

Ele também destacou que, apesar de algumas empresas do setor financeiro, como bancos digitais, não oferecerem bônus de curto prazo, a maioria das instituições financeiras adota metas de curto prazo, focando em indicadores como lucro líquido e retorno sobre o patrimônio (ROE). Segundo Rossetto, esses indicadores são cruciais para orientar o desempenho de curto prazo dos executivos, especialmente nos grandes bancos.

O mercado financeiro brasileiro, conforme apresentado, utiliza predominantemente dois modelos de avaliação de desempenho: o aditivo, que consiste na soma de KPIs, e o multiplicativo, que aplica multiplicadores para acelerar ou reduzir os resultados, conforme as metas atingidas. “Esses mecanismos incentivam os executivos a superarem suas metas”, pontuou Rossetto.

Ele também mencionou a crescente inclusão de metas ESG (ambiental, social e governança) nos pacotes de remuneração, especialmente em grandes empresas financeiras, refletindo demandas sociais e regulatórias em evolução.

Além disso, 79% das empresas brasileiras já adotam incentivos de longo prazo. No entanto, o executivo alertou para a necessidade de diferenciar incentivos genuínos de longo prazo de práticas que apenas postergam o pagamento sem alinhamento real com a performance futura dos executivos.

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As variações dos salários dos executivos com relação à desvalorização trazida pelo câmbio

A análise das curvas progressivas de pagamento também foi destaque. Predominantes no Brasil, elas aumentam a remuneração dos executivos conforme suas metas são superadas, beneficiando tanto as empresas quanto os profissionais. Rossetto destacou que 33% das empresas brasileiras adotam dois planos de remuneração variável, uma proporção superior à de outros países, refletindo a sofisticação do mercado nacional.

Rossetto finalizou abordando as práticas de “vesting” no Brasil, sendo o “vesting parcelado”, em que o valor é recebido gradualmente, o modelo mais comum. Além disso, métricas como o EBITDA continuam prevalecendo tanto para o curto quanto para o longo prazo, com o TSR e metas ESG ganhando relevância.

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EBITDA continua prevalecendo tanto no curto prazo, conforme aponta o gráfico acima

Por fim, em relação aos benefícios, 89% das empresas brasileiras ainda oferecem carro como parte dos pacotes de remuneração, especialmente em segmentos específicos. Além disso, planos de previdência privada e seguro de vida são comuns, destacando o Brasil como um país com pacotes atraentes para executivos experientes.

89% das empresas brasileiras ainda oferecem carro como parte dos pacotes de remuneração, especialmente em segmentos específicos. Além disso, planos de previdência privada e seguro de vida são comuns

Esses aspectos reforçam a distinção do Brasil em relação a outros países, com uma abordagem sofisticada e diversificada na estruturação de planos de remuneração e benefícios oferecidos.

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