Em setembro, entendendo como uma trajetória compatível com a manutenção de uma política monetária contracionista que seria necessária para a convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante (2024 e, em grau menor, 2025), o Copom antevia em seus próximos encontros novos cortes de -0,50 p.p. na taxa Selic. Entretanto, alertava que a magnitude e extensão do ciclo de flexibilização dependeriam: da evolução da dinâmica inflacionária; das expectativas de inflação, particularmente as de prazo mais longo; das projeções do Banco Central; do hiato do produto; e do balanço de riscos.
O cenário de referência utilizado na tomada de decisão indicava as projeções de inflação: de 5,0% para 2023; de 3,5% para 2024; e 3,1% para 2025. Naquele momento, o Copom adotava como premissas na modelagem: (i) a trajetória da Selic que partia de 13,25% a.a. para 11,75% a.a. ao final de 2023, para 9,00% a.a. ao término de 2024 e para 8,50% a.a. ao final de 2025; (ii) a taxa de câmbio partiria de USD/BRL 4,90, evoluindo segundo a Paridade do Poder de Compra (PPC); (iii) o preço do petróleo seguiria aproximadamente a curva futura pelos próximos 6 meses, passando a aumentar 2,0% ao ano posteriormente; e (iv) a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023, 2024 e 2025.
Atualizando-se esses pressupostos, a trajetória projetada da Selic no Focus permaneceu a mesma. Adicionalmente, com a eclosão do Conflito no Oriente Médio, o preço do barril do petróleo acomodou-se na faixa de US$ 90 e o dólar na faixa de R$ 5,00. Por fim, as expectativas de inflação não apresentaram alterações relevantes. Assim, ainda com uma reancoragem parcial, as projeções do IPCA para 2023 e 2024 passaram, respectivamente, de 4,86% para 4,65% e de 3,86% para 3,87%. Para 2025 a estimativa permaneceu em 3,50%.
Como fatores de riscos para a alta da inflação foram apontadas: (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os de baixa: (i) uma desaceleração da atividade global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O balanço de riscos atualizado não demonstrou mudanças significativas que possa alterar significativamente as projeções. O cenário base continuou sendo de uma aterrissagem lenta das economias, conjugada com uma convergência gradual das taxas de inflação às metas, aumentando a probabilidade da continuidade dos ciclos de aperto monetário pelos bancos centrais. Além da perspectiva de um maior período com os juros básicos elevados, o movimento de alta nas taxas longas nos EUA reflete as preocupações com o elevado déficit público que, por sua vez, deve sustentar o dólar em patamar elevado no mercado de câmbio internacional. Consequentemente, há uma deterioração na aversão ao risco que gera pressão nos preços dos ativos de países emergentes que, em última instância, poderá comprometer a velocidade do processo de desinflação.
No quadro doméstico, os indicadores de atividade mais recentes ratificam a percepção de desaceleração, notadamente no setor de serviços, que teria um efeito favorável no hiato do produto. Da mesma forma, a moderação nos ganhos nos indicadores relativos ao mercado de trabalho favoreceria uma dinâmica benigna para a inflação, que vem sendo corroborada nas principais medidas de núcleo e de inflação subjacente.
Assim, sem modificações substanciais no balanço de riscos em relação à última reunião do Copom, acreditamos que o processo de flexibilização monetária sinalizado tenha condições de ser cumprido. Acrescenta-se, ainda, que a taxa real de juros ex-ante (calculada pelo desconto da inflação esperada para os próximos 12 meses da taxa do swap prefixado de 360 dias) não se reduziu de forma significativa. Há tempos tem oscilado em nível restritivo, bem acima dos 4,5% a.a. que é considerado como neutro pelo Banco Central. Em relação ao mês de setembro, inclusive, houve um aperto monetário com o indicador subindo de 6,5% a.a. em 20/09 para 7,0% a.a. em 20/10. Finalizando, com o mercado futuro já contemplando na precificação da curva de juros dos prazos mais curtos, entendemos que exista espaço para quedas de -0,50 p.p. nas 3 próximas reuniões.
Boa leitura!