- Com base nos cenários avaliados, o balanço de riscos e as informações disponíveis, o Copom manteve em junho a taxa básica de juros em 13,75% a.a.. Naquele momento, a decisão seria compatível com o objetivo de convergir a inflação ao redor da meta ao longo do horizonte relevante, que incluiria o ano de 2024. As expectativas desancoradas e a percepção de um lento processo de desinflação revelariam como adequada a manutenção da Selic por um período prolongado, o que exigiria paciência e perseverança.
- Os passos futuros da política monetária seriam dependentes da evolução benigna de uma série de variáveis que comporiam o balanço de riscos para inflação. Apesar dessas considerações, a Ata da reunião assinalou que a avaliação predominante no grupo era de que a sustentação do processo de desinflação e da queda das expectativas geraria as condições necessárias para se iniciar um processo parcimonioso de redução da Selic na reunião de agosto.
- Ao avaliar a atualização do balanço de riscos da inflação entendemos que as condições para a flexibilização monetária já estão satisfeitas. No que tange aos fatores de alta, houve em relação à última reunião um arrefecimento das pressões inflacionárias das principais economias, como resposta consistente ao aperto das condições financeiras promovido pelos Bancos Centrais. Ademais, a tramitação favorável do novo arcabouço, a aprovação da Reforma Tributária PEC 450 e do voto de desempate do governo nas decisões do Carf na Câmara de Deputados contribuíram para reduzir ainda mais as incertezas no âmbito fiscal. Essa percepção que foi compartilhada pela recente elevação da classificação do risco soberano pela Fitch. Por fim, a decisão do CMN em manter a meta de inflação para os próximos anos em 3,0% ajudou a impulsionar o processo de reancoragem das expectativas, assim as estimativas para 2023 apuradas pela pesquisa Focus reduziram-se de 5,1% para 4,9% em 21/07/23, as de 2024 passando de 4,0% para 3,9% e as de 2025 de 3,8% para 3,5%.
- O cenário favorável é ratificado na avaliação dos fatores de baixa da inflação. A apreciação do real e a queda adicional dos preços internacionais mantiveram a deflação das commodities em reais. Esse processo pode persistir com as debilidades que estão sendo observadas na economia chinesa, apesar dos eventuais impactos do fim do acordo entre Rússia e Ucrânia nos preços dos grãos. Por outro lado, a maior probabilidade, de que a estabilidade de preços seja restaurada sem impor um aperto monetário mais agressivo com custos significativos à atividade e emprego nos EUA, favorece os preços dos ativos dos países emergentes. Por último, respondendo à política monetária em terreno fortemente contracionista, o mercado de crédito prossegue em franca desaceleração, com queda na demanda e oferta por empréstimos, provocada pelo elevado endividamento e comprometimento de renda das famílias, pela deterioração da qualidade de ativos e pela redução do apetite de risco nas operações.
- Contemplando: (i) a trajetória da Selic do Boletim Focus, (ii) a taxa de câmbio saindo de R$/US$ 4,85 e evoluindo conforme a paridade do poder de compra (PPC), (iii) o preço do petróleo acompanhando por 6 meses a curva do mercado futuro e posteriormente subindo 2% a.a. e (iv) a hipótese de bandeira tarifária verde para dez/23 e dez/24, o cenário de referência projetava em junho uma inflação de 5,0% para 2023 e de 3,4% para 2024.
- Atualizando-se as premissas, a mediana das projeções para a Selic ao final de 2023 saiu de 12,25% a.a. para 12,0% a.a., permanecendo em 9,5% para 2024. O preço do barril do petróleo saiu da faixa de US$ 70 para a ordem de US$ 80. Porém, a taxa de câmbio utilizada saiu de R$/US$ 4,852 para R$/US$ 4,730 em 26/07/2023. A estabilidade do real em nível mais apreciado deverá reduzir as projeções de inflação. A revisão para cima das projeções do crescimento do PIB em 2023 respondeu fundamentalmente à pujança do setor agropecuário no 1º trimestre, dado que a atividade de serviços e o consumo apresentam acomodação compatível com o ciclo de aperto monetário.
- Concluindo, gerou-se uma confiança maior para que seja iniciado o processo de flexibilização monetária no encontro de agosto. A questão que fica em aberto refere-se ao tamanho do corte da Selic. Calculada pelo swap prefixado de 360 dias, a taxa real de juros ex-ante há tempos tem oscilado em torno de 7,0% a.a., patamar bem acima dos 4,5% a.a. que é considerado como neutro pelo Banco Central. Com o mercado futuro já contemplando um corte de -0,50 p.p. na precificação da curva de juros, acreditamos que exista espaço para uma queda de -0,50 p.p. em agosto e 3 reduções adicionais de -0,50 p.p., de modo que a Selic fecharia 2023 em 11,75% a.a.
Boa leitura!