Após um final de 2023 mais otimista, com os investidores precificando o início do ciclo de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve (Fed) já na reunião de março, a cautela voltou a prevalecer, elevando a aversão ao risco durante a semana, fortalecendo o dólar e derrubando as principais bolsas internacionais. O movimento ganhou força com o relatório de empregos nos EUA mostrando um mercado de trabalho ainda apertado e com aumento nos ganhos salariais, provocando um realinhamento nas expectativas quanto à uma flexibilização monetária mais célere pelo Fed.
Com isso, o monitoramento da ferramenta Fedwatch da CME Group indicava que embora permanecesse majoritária as apostas de corte na Fed Funds na reunião de março, a probabilidade reduziu-se de 73,4% em 29/12 para 64,0% em 05/01 (sexta-feira). Sem grandes novidades, a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed reconheceu o abrandamento da atividade econômica e da inflação, embora ainda permaneça elevada, e que a taxa de juros já tenha alcançado sua máxima, ou estaria próxima a ela. Nesse cenário, ganha mais importância a divulgação na semana da inflação ao consumidor nos EUA (CPI) de dezembro.
No ambiente doméstico, a atenção se volta para a divulgação do IPCA de dezembro, após a surpresa negativa com o IPCA-15 vindo acima das expectativas. No Boletim Focus, a mediana das projeções para a inflação de dezembro subiu ligeiramente para 0,41%, apontando para uma alta de 4,47% em 2023, estabelecendo-se abaixo do teto da meta. Nos horizontes relevantes para a política monetária, apesar da evolução favorável nos dados qualitativos e da inflação corrente, as projeções de inflação mantêm-se consideravelmente acima do centro da meta de 3,00% (3,90% para 2024 e 3,50% para 2025). Nesse cenário, o Focus continuou apontando para mais 5 cortes de -0,50 p.p. na taxa Selic, seguido por mais 1 de -0,25 p.p., levando à taxa de final de ano para 9,0% a.a. em 2024 e 8,50% a.a. em 2025. Ainda repercutindo a aprovação do pagamento de precatórios via crédito extraordinário, as projeções fiscais voltaram a se deteriorar para 2023, com o déficit primário alcançando -2,0% do PIB e o nominal em -8,40% do PIB.
A inflação no atacado medida pelo IGP-DI subiu 0,64% em dezembro, mas ainda assim, acumulou uma deflação de -3,30% a.a., aliviando o processo de desinflação, principalmente no que tange aos reajustes de contratos. A despeito da aceleração na margem, a produção industrial segue fraca, com a taxa acumulada em 12 meses operando próximo da estabilidade nos últimos 3 meses.
Do lado fiscal, o setor público consolidado encerrou novembro com um déficit primário de R$ -37,3 bilhões, levando o acumulado em 12 meses a um déficit de R$ -131,4 bilhões, o que representava 1,2% do PIB. Nas contas externas, o saldo em transações correntes ficou deficitário em US$ -1,6 bilhão em novembro, com o acumulado em 12 meses encerrando deficitário em US$ -33,7 bilhões, o que significou quedas de -0,4% na margem e de -32,6% a.a.. O desempenho foi beneficiado pelos bons resultados da balança comercial, que registrou um superávit de US$ 9,4 bilhões em dezembro, acumulando um superávit de US$ 98,8 bilhões em 2023 (+60,6% a.a.), decorrente de US$ 339,7 bilhões em exportações (+1,7% a.a.) e US$ 240,8 bilhões em importações (-11,7% a.a.).
Ainda para esta semana, destacam-se também as divulgações da produção de veículos doméstica, as inflações ao produtor e ao consumidor na China e o índice de confiança do consumidor e os dados do varejo na Zona do Euro.
Clique aqui para baixar o relatório completo: Comportamento Semanal de Mercado (siteabbc.brunob.com.br)