Em função da significativa elevação dos custos com alimentação e energia elétrica, o IPCA-15 saiu de uma alta de 0,13% em set/24 para 0,54% em outubro, com a taxa anualizada acelerando de 4,12% a.a. para 4,47% a.a.. A composição qualitativa menos favorável do índice reforçou os empecilhos para que a inflação convirja à meta de 3,0%. Em 12 meses, a média dos 5 núcleos acompanhados pelo Banco Central (BC) elevou-se de 3,60% a.a. para 3,81% a.a. e a medida subjacente passou de 4,61% a.a. para 5,08% a.a. nos serviços.
Ainda não contemplando a adoção da bandeira tarifária amarela nas contas de luz em novembro, a mediana das expectativas para o mês manteve-se em 0,20% e para dezembro aumentou de 0,48% para 0,50%. Com isso, a projeção do IPCA para 2024 elevou-se de 4,50% para 4,55%, extrapolando o teto de 4,5%. Reiterando o desafio para a convergência, a expectativa inflacionária para o horizonte relevante da política monetária (18 meses à frente), no Boletim Focus, ampliou-se de 3,87% em 18/10 para 3,88% em 25/10.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou a projeção de crescimento econômico do Brasil de 2,1% em jul/24 para 3,0% em 2024, mas com a política monetária mais restritiva reduziu o número de 2025 de 2,4% para 2,2%. No Focus, a estimativa para 2024 avançou de 3,05% para 3,08%, mantendo na margem a desaceleração para 1,93% em 2025. Apesar dos temores quanto à evolução das despesas, mas alinhando-se ao dinamismo da atividade econômica, a arrecadação federal via impostos e previdência segue surpreendendo positivamente. No acumulado do ano até setembro houve uma elevação real de 9,7% frente ao mesmo período de 2023. No Focus, o déficit primário esperado é de -0,60% do PIB para 2024 e de -0,70% para 2025.
O aumento na desancoragem das expectativas persiste mesmo com a redução na projeção do avanço no PIB em 2025 e com as esperadas elevações na Selic de 0,50 p.p. em novembro e em dezembro e de 0,25 p.p. em janeiro. Alinhada à pesquisa, a taxa real de juros ex-ante ficou em 8,19% a.a., o que representou uma queda de -0,05 p.p. na semana, patamar ainda fortemente restritivo, quando comparado com os 4,75% a.a., considerado como neutro pelo BC.
No quadro externo, a volatilidade atual está condicionada: (i) ao impacto da resiliência da atividade econômica na convergência da inflação à meta de 2,0% nos EUA; (ii) aos desdobramentos na demanda global de um eventual fracasso das medidas de estímulos governamentais na China; e (iii) aos reflexos de uma possível escalada do conflito no Oriente Médio, com impactos no comércio de commodities, especialmente petróleo. Na sexta-feira (25/10), a ferramenta do CME Group apontava 95,1% de chance de um corte de -0,25 p.p. nos Fed Funds para a reunião de novembro (86,5% em 21/10). Já para dezembro, a probabilidade de outro corte de -0,25 p.p. era de 74,6% (64,9% em 21/10).
Com as expectativas bem acima da meta, o hiato do produto positivo, as preocupações com a trajetória da dívida pública e a depreciação cambial, as atenções na semana que se adentra estarão voltadas para a temperatura que os números de setembro do mercado de trabalho (Caged e Pnad) vão indicar. Para monitoramento, ainda, as estatísticas fiscais, além da atividade industrial no 3T24 e as sondagens de confiança da FGV. No exterior, destaque para a preliminar do PIB do 3T24 nos EUA, o índice de preços para gastos com o consumo pessoal (PCE) de setembro e o payroll de outubro, que poderão dar mais sinais quanto à trajetória na política monetária dos EUA, além da inflação ao consumidor (CPI) e o PIB da Zona do Euro.