Como balizador preferido do Federal Reserve (Fed), o aumento do índice de preços de gastos com consumo (PCE) acomodou-se entre 2,5% a.a. e 3,0% a.a.. Com as surpresas negativas do início do ano e a baixa reação da atividade à política monetária restritiva, o Fed passou a não ter pressa para dar início à flexibilização monetária. Ratificando este cenário, as expectativas de inflação de curto e longo prazo apuradas pela Universidade de Michigan estão desancoradas, permanecendo em 2,9% para 1 ano e 2,8% para 5 anos. Com a perda de convicção de um processo célere de queda nas taxas de juros, houve uma alteração significativa nas apostas dos investidores, não só no tamanho como na extensão dos cortes, com 42,6% de probabilidade a manutenção da Fed Funds em junho não está descartada. Na ata da última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) procurou explicar as suas razões para encurtar o horizonte do forward guidance. Fundamentalmente, a decisão teria sido tomada por conta de um aumento na incerteza, não que tenha ocorrido uma alteração no cenário-base para a inflação. Julgou apropriado manter um maior grau de flexibilidade, porém alertando que seria um equívoco interpretar o novo posicionamento como uma indicação de alteração do quadro. Entretanto como a maior incerteza pode ser entendida com uma maior lentidão para a convergência à meta de 3,0%, há sim uma alteração. Ademais, o balanço de riscos não parece ser mais simétrico, dados a maior persistência e o hiato do produto mais apertado. Assim, ao alterar a orientação futura, o Banco Central (BC), praticamente anunciou a redução do ritmo de queda da Selic para – 0,25 p.p. em junho, apesar das inúmeras ressalvas no texto. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de mar/24, o BC aumentou a projeção para o crescimento do PIB em 2024 de 1,7% na versão anterior para 1,9%. Assinalou, ainda, que o hiato do produto tem se mantido relativamente estável nos últimos trimestres em -0,6% no 4T23. Todavia, a situação é mais crítica nas estimativas no Questionário Pré-Copom, no qual os analistas apuraram uma ausência de ociosidade ao fim de 2023, 2024 e 2025. Superando as expectativas, o Novo Caged apresentou em fevereiro uma criação líquida de 306.111 vagas, consideradas as declarações fora do prazo. Em R$ 2.082,79 em fevereiro, o salário médio de admissão teve uma alta de 1,4% na comparação com fev/23. Pela Pnad Contínua do IBGE, a taxa de desempregados no trimestre findo em fevereiro subiu para 7,8%, com um aumento de 0,3 p.p. em relação ao período encerrado em nov/22. Em relação ao rendimento médio, houve aumento real de 1,1% em comparação ao trimestre encerrado em nov/23. Após uma sequência de 4 trimestres com variações inferiores, o IPCA acumulado no trimestre findo em fev/24 superou em 0,54 p.p. o cenário projetado no RTI de dez/23. No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação eram de 0,24% em março, 0,35% em abril, 0,27% em maio e 0,15% em junho. Comparando-se com o relatório anterior, a estimativa permaneceu em 3,5% para 2024, 3,2% para 2025 e 3,2% para 2026. No que tange ao IPCA-15 de março, os dados qualitativos revelaram uma composição confortável. A média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada do índice cheio saiu de 4,71% a.a. para 4,17% a.a. e a média dos núcleos de 3,80% a.a. para 3,55% a.a. Contudo, persistem as preocupações com a inflação dos serviços subjacentes passando de 5,83% a.a. para 6,00% a.a.. Para esta semana, destaques ficam para as divulgações de índices que permitem avaliar a temperatura da atividade e da inflação como: a produção industrial, os números do crédito, do setor externo e as estatísticas fiscais para fevereiro; e os dados do setor de veículos e o IGP-DI em março. No ambiente externo, a atenção deverá estar voltada para os PMIs nos EUA, Zona do Euro e China; a inflação ao consumidor na Zona do Euro; e os dados do mercado de trabalho norte-americano.
Boa leitura!