Considerando-se o horizonte relevante para a política monetária de 18 meses à frente, a expectativa do Boletim Focus é de uma inflação de 3,8% a.a. ante uma projeção do Comitê Política Monetária (Copom) de 3,2% a.a. no cenário em que a meta Selic fosse mantida em 10,50% a.a.. Com o sentimento de uma atividade mais forte do que a esperada e a desancoragem nas expectativas inflacionárias, o boletim passou a projetar elevações de 0,25 p.p. na Selic para: 10,75% a.a. em setembro; 11,00% a.a. em novembro; e 11,25% a.a. em dezembro. Reduziu-se, dessa forma, a discrepância nos prognósticos do Focus em relação às negociações nos mercados futuros de juros.
Ao incorporar o gradualismo indicado nas comunicações do presidente do Banco Central (BC), o mercado de opções digitais da B3 indicava em 06/09 uma probabilidade de 73,0% no aumento de 0,25 p.p. na taxa básica de juros (42,6% em 30/08). Adicionalmente, a taxa real de juros ex-ante fechou a semana em 7,41% a.a., com uma redução de -0,17 p.p. no período. Porém, permanecendo ainda em patamar bem contracionista, quando comparado à taxa neutra de 4,75% a.a. calculada pelo BC.
Ajustando-se à surpresa positiva do crescimento de 1,4% do PIB no 2T24, a mediana das projeções da expansão do PIB em 2024 saltou de 2,46% em 30/08 para 2,68% em 06/09, tendendo progressivamente a se aproximar de 3,00% nas próximas edições. Mesmo com o provável início de um ciclo de aperto na taxa básica de juros, a projeção de elevação do PIB em 2025 subiu de 1,85% para 1,90%.
Com o desaquecimento do mercado de trabalho e a inflação gradualmente caminhando para a meta de 2,0% nos EUA, a redução gradual da restrição da política monetária pelo Federal Reserve (Fed) mostrou-se como o cenário mais provável. Em 06/09/24, a ferramenta FedWatch, do CME Group, apontava 70,0% de chance de um corte de -0,25 p.p. na taxa básica de juros em setembro. Com o gradualismo na flexibilização da política monetária e receios que ele leve a um eventual desaquecimento da atividade global, houve uma deterioração na percepção de risco que produziu na semana perdas importantes nas principais bolsas internacionais. Assim, os retornos dos treasuries recuaram e o dólar perdeu força em relação às moedas dos países desenvolvidos.
Para a semana que adentra, as preocupações estarão voltadas para a temperatura do balanço de riscos para inflação, que será transmitida nas divulgações do IPCA de agosto e dos indicadores de atividade como serviços e varejo de julho. Contudo, não se espera que os números sejam capazes de reverter as apostas sobre a trajetória da política monetária a ser conduzida pelo Copom. Na agenda internacional, os destaques ficam com: a inflação ao consumidor e produtor e a confiança do consumidor nos EUA; produção industrial, vendas no varejo e balança comercial na China; e a reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e produção industrial na Zona do Euro.
Boa leitura!