A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) assinalou que a decisão de aumentar a Selic em 0,25 p.p. foi tomada com base em 3 perspectivas: (i) pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas; (ii) de um início de ciclo gradual; e (iii) importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo. Contudo, dado o firme compromisso de convergência da inflação à meta de 3,0% e as projeções apresentadas, o Copom parece ter buscado coordenar as expectativas em direção a um aperto maior na trajetória da Selic do que a utilizada na reunião de setembro.
As projeções no Relatório de Inflação do Banco Central (BC) para a expansão do PIB em 2024 elevaram-se de 2,3% em jun/24 para 3,2% em setembro. Entretanto, em razão do menor estímulo fiscal e do aperto monetário, espera-se um menor ritmo de crescimento a partir do 2º semestre, que propicie uma desaceleração para 2,0% em 2025. Adicionalmente, o BC avaliou que o hiato do produto passou da neutralidade para campo positivo, variando de 0,0% para 0,5% no 2T24; de -0,2% para 0,5% no 3T24 e de -0,4% para 0,3% no 4T24.
Entendendo a política monetária como medida essencial para assegurar a convergência da inflação à meta, a taxa real de juros ex-ante acima do patamar de 4,75% a.a. considerado como neutro pelo BC serviu para inibir o aumento nas projeções de inflação. O indicador subiu 0,16 p.p. na semana para 7,84% a.a. (5,95 % a.a. no final de dezembro). Alinhando-se às indicações, as estimativas para a Selic no Boletim Focus avançaram de 11,50% a.a. para 11,75% a.a. para o final de 2024 e de 10,50% a.a. para 10,75% para o final de 2025.
Com a prévia do índice surpreendendo as expectativas, a mediana das projeções no Boletim Focus para o IPCA de setembro reduziu-se na semana de 0,53% para 0,50%. As estimativas para outubro subiram de 0,31% para 0,34% e as de novembro mantiveram-se em 0,21%, contudo devem subir com a adoção da bandeira vermelha nível 2. Desancoradas, as expectativas para o IPCA de 2024 ficaram estáveis na semana em 4,37%. Mesmo com o ajuste para cima na evolução da Selic, a estimativa de inflação de 2025 manteve-se em 3,97%, enquanto a projeção para 2026 reduziu-se de 3,62% para 3,60%. Já no horizonte relevante para a política monetária, ou seja 18 meses à frente, a expectativa no Focus permaneceu na margem em 3,8% a.a.
Com a economia dos EUA expandindo-se em ritmo sólido, a inflação tem exibido progressos em direção à meta de 2,0%. A inflação medida pelo índice de preço de gastos de consumo pessoal (PCE) desacelerou de 2,5% a.a. em jul/24 para 2,2% a.a. em agosto. Assim, manteve-se em pé a tese de intensificação de cortes nos juros pelo Federal Reserve (Fed). Esse sentimento conjugado com o anúncio de novos estímulos na China favoreceram a tomada de risco na semana, elevando as cotações das principais bolsas internacionais e commodities e reduzindo a taxa do dólar no mercado de câmbio internacional.
Na semana que se adentra, as atenções estarão fundamentalmente voltadas ao mercado de trabalho dos EUA, especificadamente ao payroll de setembro. Entretanto, haverá a divulgação dos PMIs de serviços e manufatura dos EUA. Na Zona do Euro, ter-se-á a prévia da inflação ao consumidor. Por fim, nas estatísticas locais, o foco estará nos dados da indústria, emplacamento de veículos e da balança comercial.
Boa leitura!