Sem considerar os efeitos do atentado político ocorrido no final de semana nos preços dos títulos públicos dos EUA e no mercado de câmbio internacional, o sentimento positivo para a assunção de risco prevaleceu na última semana. O fator que emulou esse processo foi a inflação ao consumidor (CPI) que surpreendeu os analistas, registrando uma deflação de – 0,1% em junho. Com a dissipação dos receios levantados com o comportamento desfavorável da inflação no 1T24, o entendimento é de que se constituiu um cenário propício para a convergência inequívoca à meta. Assim, a menos que se tenha uma ocorrência inesperada, dá-se como praticamente certo o início do ciclo de cortes na taxa básica de juros em setembro pelo Federal Reserve (Fed). Em 12/07, a ferramenta FedWatch do CME Group apontava 90,3% de chance, com um corte da taxa básica de juros para a faixa de 5,00% a.a. e 5,25% a.a. (72,2% em 05/07). Para dezembro, a probabilidade de 2 cortes de -0,25 p.p. era de 40,5% (47,5% em 05/07) e de 3 de 50,6% (27,2% em 05/07). Em consonância, o dólar perdeu força no mercado internacional, recuando -0,75% frente a uma cesta de moedas de países desenvolvidos e – 0,96% em relação à de países emergentes. Todavia, o real registrou um desempenho aquém da média de seus pares emergentes, apreciando-se 0,57%, com o dólar encerrando cotado a R$ 5,43. Por sua vez, no mercado de juros futuros, a queda nos prêmios levou a um recuo de -0,13 p.p. na taxa real de juros para 6,96% a.a., ainda em patamar elevado em comparação à taxa neutra estimada pelo Banco Central (BC) de 4,75% a.a.. Abaixo da projeção no Boletim Focus de uma alta de 0,32% e desacelerando de um aumento de 0,46% em mai/24, o IPCA de junho registrou uma elevação de 0,21%. Contudo, pela base estatística, a variação anualizada avançou 3,93% a.a. para 4,23% a.a.. Objeto de preocupação, a inflação de serviços reduziu o seu crescimento de 5,09% a.a. em mai/24 para 4,48% a.a., o menor nível desde set/21. Por sua vez, a média das 5 medidas de núcleo acompanhadas pelo BC manteve-se praticamente estável, aumentando ligeiramente de 3,55% a.a. para 3,58% a.a.. Apesar da surpresa positiva e da dinâmica de preços favorável, o comportamento dos principais indicadores quantitativos e qualitativos da inflação ainda é incapaz de assegurar uma trajetória de convergência à meta. Dessa forma, o Focus só projeta para maio de 2025 uma queda na taxa Selic No horizonte relevante para política monetária, persiste o movimento de desancoragem nas expectativas inflacionárias, com a projeção do IPCA para 2025 elevando-se de 3,88% para 3,90%. Com o cenário da bandeira amarela na tarifa de energia e do aumento dos preços da gasolina e do gás de cozinha, as estimativas de curto prazo para o IPCA elevaram-se. Com o ajuste da trajetória esperada para a taxa básica de juros, a estimativa do crescimento do PIB para 2025 reduziu-se para 1,97% (2,00% há 4 semanas). Utilizado como indicador antecedente, o IBC-Br elevou-se em 0,25% em maio, desacelerando de 1,78% a.a. em abr/24 para 1,66% a.a., mesmo com a alta surpreendente na margem. O resultado mensal apoiou-se nas elevações de 1,21% no varejo restrito e de 0,77% no ampliado, na relativa estabilidade de – 0,03% nos serviços e no recuo de -0,92% na indústria. Para esta semana, além dos desdobramentos do movimento político nos EUA, destaques para as divulgações do IGP-10 e do monitor do PIB da FGV, além do PIB, produção industrial e vendas no varejo na China, produção industrial e inflação ao consumidor na Zona do Euro e das vendas no varejo, produção industrial e o Livro Bege nos EUA, além da reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que deverá manter seu ciclo de cortes nas taxas de juros referenciais.
Boa leitura!