No Simpósio anual de Jackson Hole, Jerome Powell assinalou que, diante do processo de convergência da inflação à meta e do desaquecimento do mercado de trabalho, “chegou a hora de ajustar a política monetária”. Contudo, o momento e o ritmo dos cortes na taxa básica de juros dependerão da evolução dos dados. Esse cenário foi subsidiado pela ata do Comitê de Política Monetária (Fomc) do Federal Reserve (Fed) que considerava, apesar da decisão unânime por manter os juros entre 5,25% a.a. e 5,50% a.a., como plausível uma redução na taxa dos Fed Funds ainda na última reunião.
Sedimentada as perspectivas de que o ciclo de afrouxamento monetário começará em setembro, a busca por ativos de risco ganhou força na semana. Como consequência: os rendimentos dos Treasuries recuaram; os principais índices acionários acumularam ganhos; e o dólar perdeu força no mercado global de moedas. Consequentemente, a ferramenta FedWatch do CME Group em 23/08 mostrava como majoritária a aposta de corte de – 0,25 p.p. nos juros básicos em setembro (64,0%). Contudo, houve um aumento nas chances de uma redução mais agressiva até o final de 2024.
Na semana que se adentra, os números de renda e gastos pessoais dos norte-americanos, em julho, darão novas pistas sobre a força do consumo, em um cenário de revisão baixista nos dados de emprego e incertezas sobre o tamanho do ajuste monetário.
Com o Banco Central (BC) manifestando forte incômodo com a desancoragem das expectativas, a mediana das projeções no Boletim Focus para o IPCA para 2025 aumentou de 3,91% para 3,93% e a de 2026 permaneceu em 3,60%. No que tange à atividade econômica, a mediana para expansão do PIB em 2024 saiu de 2,23% para 2,43%. Porém, com o alongamento do prazo de manutenção da taxa básica de juros em patamar restritivo e uma possível elevação da Selic, a estimativa para 2025 recuou de 1,89% para 1,86%.
Mesmo com a melhora na percepção de risco, a aposta de aumento na Selic na reunião de setembro é majoritária no mercado de opções digitais da B3, com a probabilidade de uma alta de 0,25 p.p. em 42,5% e a de uma elevação de 0,5 p.p. em 22,5%. Apesar das sinalizações do BC que está à mesa uma elevação na Selic ainda 2024 e a crença do mercado que ocorra já na reunião de setembro, a mediana das projeções para o final de 2024 continuou em 10,50% a.a..
Do lado real, a expansão da massa salarial e a lucratividade das empresas foram refletidas nos números da arrecadação federal, com uma elevação real de 9,15% no acumulado do ano até junho, em relação ao registrado no mesmo período de 2023. Ganho impulsionado também pelas medidas governamentais, como a reoneração dos impostos sobre os combustíveis e a limitação do uso de compensações tributárias pelas empresas. Ainda, com a retomada da produção industrial, do emprego e do faturamento, a confiança do empresário industrial voltou ao campo que indica otimismo (51,7 pts.), ajudando a criar um ambiente favorável para os investimentos, embora o setor ainda enfrente desafios.
Ainda na semana, a agenda de indicadores traz dados do IPCA-15 e IGP-M de agosto, mercado de trabalho, estatísticas fiscais e de crédito de julho deve atualizar o balanço de riscos para a inflação. Lá fora, além do PCE, destaques para o PIB e confiança do consumidor nos EUA; inflação ao consumidor e confiança do consumidor na Zona do Euro, e PMI manufatura e serviços na China.
Boa leitura!