• Com base nos dados do 1º semestre de 2023, o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do Banco Central (BC) apresenta o panorama da evolução recente e as perspectivas para a estabilidade financeira, com foco nos principais riscos e na resiliência do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
• Embora tenha ocorrido uma clara melhora no ambiente externo, o BC manifestou novamente as suas preocupações com o nível de incerteza sobre a evolução da atividade global, principalmente em razão da persistência inflacionária que tem obrigado as autoridades monetárias a elevarem as taxas de juros e sinalizarem a sua manutenção no período que fosse necessário para a convergência às metas. Assinalou que o sistema financeiro internacional ainda apresenta sinais de vulnerabilidade, o que é um fator de risco para os países emergentes.
• De forma taxativa, o BC apontou a inexistência de risco relevante, com o SFN apresentando liquidez confortável, ostentando provisões adequadas ao nível de perdas esperadas e permanecendo bem capitalizado. No que se refere à liquidez, persistiram os movimentos de aumento de instrumentos com isenção tributária. Com a disseminação das captações intermediadas, por meio de clientes de plataformas de investimento, constatou-se a convergência das taxas praticadas entre os segmentos bancários e o ganho de participação de mercado das instituições financeiras (IFs) de menor porte.
• Em linha com a deterioração da qualidade dos ativos, as estimativas do BC mostraram que as provisões aumentaram e permaneceram acima do volume das perdas esperadas. Entretanto, adequando-se à política monetária e à aversão de risco, o mercado de crédito manteve-se em desaceleração. No segmento de pessoas físicas (PFs), contribuiu a alavancagem das famílias e as taxas de juros elevadas. No caso das pessoas jurídicas (PJs), o destaque ficou para a redução no crédito bancário a grandes empresas, embora o mercado de capitais tenha se constituído como uma fonte relevante de financiamento.
• Mesmo com o menor apetite ao risco, o cenário ainda requer cautela. Os critérios de concessão de crédito para PF tornaram-se mais restritivos. Para PJ, não se percebe alteração importante na estimativa de qualidade das concessões. Esse fator demanda atenção dada a pressão sobre a capacidade de pagamento das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).
• A base de capital do sistema permaneceu sólida, e a sua estrutura está mais homogênea entre os segmentos de bancos. A margem de capital regulamentar não é restrição para a expansão da oferta de crédito de forma sustentável. Adicionalmente, os testes de estresse de capital e de liquidez ratificaram a robustez do sistema bancário. Em pesquisa, as IFs demonstraram a redução na percepção de risco, principalmente no que tange aos fiscais e ao cenário internacional. Por fim, a confiança na estabilidade manteve-se elevada, próxima à máxima histórica.
• O recuo na rentabilidade refletiu a continuidade do aumento de despesas com provisões e das despesas de captação e com custos administrativos. Apesar da piora da rentabilidade no semestre, o sistema bancário permanece rentável. Com a melhora no ambiente econômico e institucional, as expectativas futuras são positivas em razão da qualidade das novas concessões, da redução das estimativas de perdas com crédito e da gradual flexibilização monetária que reduzirá as despesas de captação favorecendo uma margem mais alta dada a proporção relevante de safras de crédito concedidas a taxas maiores. Ademais, a demanda por crédito e serviços bancários e a capacidade de pagamento dos devedores tendem a aumentar.
Boa leitura!