Respondendo à flexibilização da política monetária iniciada em ago/23, ao bom crescimento econômico, ao mercado de trabalho aquecido e à recuperação da renda das famílias, o mercado de crédito vem exibindo um bom dinamismo em 2024, com expansão nas concessões de empréstimos com recursos livres (RL), redução na taxa de juros dos empréstimos e estabilidade na inadimplência das carteiras. No entanto, os ainda elevados níveis de endividamento e comprometimento de renda das famílias, a inflexão da trajetória da Selic com o aumento na inclinação da curva de juros e os efeitos de uma eventual desaceleração da atividade no fluxo de caixa das empresas poderão prejudicar esse desempenho.
Em agosto, inclusive, já houve uma redução no ritmo da alta anualizada. Por causa do comportamento da rubrica Empréstimos, o Crédito Ampliado ao Setor Não Financeiro (CASNF) desacelerou de 15,6% a.a. em jul/24 para 15,0% a.a. em agosto. Contudo, o mercado de capitais continuou ganhando relevância como fonte complementar de financiamento, com os títulos securitizados elevando-se em 36,8% a.a. e os títulos de dívida privados em 23,1% a.a..
No âmbito do Sistema Financeiro Nacional (SFN), a taxa de crescimento do estoque do crédito reduziu-se de 10,6% a.a. em jul/24 para 10,1% a.a. em agosto. Nas modalidades com RL, a perda de força adveio fundamentalmente das operações no segmento para pessoas físicas (PF) que passaram de uma alta de 11,1% a.a. para 10,7% a.a., enquanto para pessoas jurídicas (PJ) houve uma elevação de 6,6% a.a. para 7,2% a.a.. Já nas linhas com recursos direcionados (RD), ocorreu a diminuição no ritmo de avanço nos 2 tipos de tomador de recursos. A expansão das linhas para PJ saiu de 11,1% a.a. para 9,3% a.a. e a das para PF de 13,6% a.a. para 12,4% a.a..
A série da média móvel trimestral (MM3) das concessões dessazonalizadas mostrou uma aceleração, passando de uma alta de 3,9% em jul/24 para 4,8% em agosto. Contudo, observou-se uma evolução negativa nas modalidades com RD, com o indicador passando de -6,4% para -9,9%. Por sua vez, a expansão das concessões totais acumuladas em 12 meses (12m) continuou se intensificando, saindo de uma elevação de 11,2% a.a. para 12,2% a.a.. Por fonte de recursos, a alta passou de 11,1% a.a. para 12,7% a.a. com RL e de 11,5% a.a. para 9,6% a.a. com RD. Na decomposição por tipo de tomador de: 9,9% a.a. para 12,2% a.a. para PJ, mantendo-se em 12,3% a.a. para PF.
Desde o início do ciclo de flexibilização monetária até agosto, a queda na taxa média de juros nas concessões foi de -3,7 p.p., superando a baixa de -3,25 p.p. da Selic. Tal movimento basicamente foi alavancado pela queda de -5,1 p.p. nas operações para PF. Em agosto, o indicador fechou em 27,7% a.a., com diminuição de -0,1 p.p. na margem. Nas modalidades com RL, mais sensíveis à política monetária, a taxa manteve-se em 39,8% a.a. Todavia, a deterioração das condições financeiras preocupa, a taxa média de captação aumentou 0,4 p.p. desde abr/24, diminuindo o spread nas concessões em -0,7 p.p. no período para 18,5 p.p..
A qualidade da carteira de crédito para PJ continuou apresentando uma evolução confortável. A taxa de inadimplência registrou leve alta de 0,1 p.p. na margem, ficando em 2,4% em agosto (2,5% em dez/23), permanecendo em 4,5% para as Micro, Pequenas e Médias empresas (MPMe) e em 0,2% para as Grande empresas (Ge). Adicionalmente, a parcela das operações classificadas entre “E” e “H” recuou -0,3 p.p. no mês para 5,9%, com redução mensal de -0,5 p.p. para 9,0% nos empréstimos para MPMe (8,9% em dez/23) e a estabilidade em 3,4% na Ge (4,6% em dez/23).
Em julho, o índice de endividamento das famílias subiu 0,2 p.p. na margem, encerrando em 47,9%, permanecendo muito próximo ao seu pico histórico. Com elevações mensais de 0,4 p.p., o indicador de comprometimento da renda era de 26,6%, aproximando-se também da máxima histórica.
Com esse quadro, a Diretoria de Economia, Regulação e Produtos da ABBC ajustou para cima as suas estimativas. O crescimento do crédito em 2024 subiu de 10,1% para 10,9%, com os empréstimos para PF saindo de uma elevação de 10,9% para 11,9%, para PJ de 8,8% para 9,4%, com RL de 8,7% para 9,7% e RD de 12,0% para 12,7%. Para o ano de 2025, as projeções são de: 10,1% para o estoque total; 10,1% com RL; 10,0% com RD; 10,5% para PF; e 9,4% para PJ.