A constante evolução dos riscos no setor financeiro tem desafiado os Chief Risk Officers (CROs) das instituições financeiras em todo o mundo. Este cenário foi detalhado em um recente estudo global realizado pela EY, em parceria com o Instituto Internacional de Finanças (Institute of International Finance – IIF). Os resultados da pesquisa, que ouviu CROs de diversos continentes (África, Europa, Ásia e Américas), foram apresentados no Encontro de Economia Bancária da ABBC, em junho, por Rui Cabral, sócio-líder de Risco da EY para a América Latina. A abertura do evento foi conduzida por Everton Gonçalves, Diretor de Economia, Regulação e Produtos da ABBC.
De acordo com a pesquisa, quatro principais preocupações estão moldando a agenda dos CROs atualmente, dentro de um cenário de curto prazo (12 meses) e médio prazo (5 anos). A primeira é a rápida e constante evolução dos riscos, que desafia os profissionais a compreender e mitigar os impactos desses drivers no negócio. Em seguida, a crescente complexidade das ameaças, especialmente no campo da cibersegurança, que agora inclui não apenas ataques diretos às instituições, mas também a seus parceiros, dentro de um contexto geopolítico.
A função dos CROs também está em transformação, passando de uma atuação reativa para um papel mais estratégico, com o uso intensivo de tecnologias e dados para a formação de uma gestão de risco mais proativa. Por fim, a atração e retenção de talentos, especialmente da geração Z, com habilidades em análise de dados, tem sido um desafio crescente para manter as áreas de risco atrativas e eficazes.
Top 5: cibersegurança, regulatório, resiliência operacional, liquidez e apetite a risco estão entre principais desafios na opinião dos CROs, conforme apresentado na reunião por Rui Cabral, sócio-líder de Risco da EY (foto em destaque, acima)
Principais Riscos a Curto Prazo
Os resultados destacam a cibersegurança como o principal risco identificado globalmente para os próximos 12 meses, devido à sua natureza imprevisível e ao impacto potencial em toda a cadeia de valor das instituições financeiras. “Um dos pontos de maior preocupação está também na interação do risco cyber com outros riscos como os riscos de terceiros (fornecedores dos bancos) relevantes para a continuidade das operações e também no combate a fraudes e golpes”, exemplificou Rui.
A regulamentação também se mostra uma preocupação significativa para o curto prazo, com ênfase nas adaptações à agenda de Basileia, 4.966/ IFRS 9 (no Brasil) e regulamentação associada aos riscos climáticos. “Os principais questionamentos são como as instituições financeiras incorporam de maneira eficaz a adoção regulatória extraindo valor e evoluindo essa questão dentro da visão estratégica da instituição”, comentou Rui.
A resiliência, tanto operacional quanto financeira, subiu de forma constante nos últimos anos como tema prioritário para os CROs, refletindo a necessidade de as instituições estarem preparadas para enfrentar crises e fraudes internas. No Brasil, a liquidez aparece como um tema importante já no cenário de 12 meses, embora com menor destaque em comparação ao cenário global. O apetite a risco também foi abordado, especialmente em relação a novos riscos emergentes, como os climáticos e cibernéticos. A dificuldade de incorporar e medir esses novos tipos de riscos no apetite a risco das instituições é um desafio destacado pelos CROs.
Além dos CROs, o estudo da EY também perguntou aos Conselhos de Administração dos bancos quais os temas de risco prioritários para os próximos 12 meses. Para este grupo, a cibersegurança também foi apontada como a mais preocupante por 69% dos entrevistados. Contudo, os Conselhos apontaram outra ordem de prioridade: em segundo lugar, ficou a transição para estratégia digital dos processos (34%), seguida dos riscos de modelo (33%), de liquidez (29%), apetite a risco (28%) e regulatório (28%).
Preocupações Regionais e Específicas
A pesquisa ainda apontou preocupações específicas por região, como o crédito de atacado nos Estados Unidos, influenciado pelo setor de real estate comercial, e no Brasil, com o setor varejista.
O risco climático e ambiental, embora tenha perdido um pouco de relevância imediata, continua sendo uma prioridade no longo prazo para os Conselhos. A América Latina, incluindo o Brasil, se mostra mais comprometida com a regulamentação e implementação de processos relacionados aos riscos climáticos.
Cenário de Médio e Longo Prazo
A pesquisa da EY também perguntou aos CROs sobre as perspectivas de risco para um cenário mais longo, de 5 anos. A utilização de tecnologias emergentes, como machine learning e inteligência artificial, é uma prioridade para os próximos anos, no processo de automação de processos, melhoria da experiência do cliente, migração para a nuvem e modernização de funções core. No entanto, essa transformação traz novos riscos, como a privacidade de dados e a segurança cibernética.
Em termos de riscos geopolíticos, a pesquisa destacou uma preocupação crescente com a mudança na ordem global, especialmente em relação à influência da China e às tensões com os Estados Unidos. Esses fatores podem impactar diretamente as economias e, consequentemente, o setor financeiro.
Assim como no curto prazo, a integração dos riscos de mudança climática na gestão de riscos das instituições financeiras também ganhou destaque na lista de preocupações a médio prazo, com muitas organizações ainda em fases preliminares de compreensão e implementação de metodologias adequadas.
Por fim, a resiliência operacional também inclui a transformação dos planos de continuidade de negócios (PCN). Anteriormente focados internamente, agora se voltam para garantir a experiência do cliente final. Garantir que serviços críticos, como o acesso a aplicativos bancários, não sejam interrompidos é essencial para manter a satisfação do cliente. A qualidade desses planos é cada vez mais importante, não só por motivos regulatórios, mas pela necessidade de uma gestão robusta em um ambiente de constantes desafios tecnológicos e de crise.
Riscos Financeiros e de Crédito
O risco de liquidez ou financiamento foi apontado como o principal desafio para os CROs das organizações para os próximos 12 meses, com 66% das menções, seguido pelo risco de crédito no varejo (56%), no atacado (52%), IRRBB (48%), crédito de contraparte (24%) e de mercado (19%). Os segmentos de carteira que os executivos entendem como mais desafiadores incluem imóveis comerciais, outros empréstimos (cartão de crédito, auto etc.), empréstimos com alavancagem e imóveis residenciais.
Gestão de Talentos para o Futuro
Sobre a gestão de talentos, a pesquisa revelou que 33% das instituições não utilizam outsourcing ou co-sourcing para a segunda linha de defesa, preferindo manter essas funções internamente. No entanto, a tendência é que o uso de terceiros aumente para responder a demandas específicas e trazer especialistas em áreas emergentes como open finance, inteligência artificial e ativos digitais.
A principal habilidade para os profissionais de gestão de risco nos próximos cinco anos será a compreensão profunda do negócio e a capacidade de atuar como facilitadores, adaptando-se a um ambiente de risco em constante mudança. O conhecimento em dados e tecnologia é cada vez mais crítico, e a especialização profunda em um domínio de risco é essencial.