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Pré-Copom: Fevereiro/2020

Encaminho abaixo minhas considerações baseadas nas opiniões dos economistas do mercado acerca do cenário econômico, relatadas em encontro recente com a autoridade monetária:

  • Em relação à última reunião de 2019, houve uma alteração significativa das expectativas. Naquele instante, o sentimento era de otimismo no processo de recuperação econômica, com o quadro desenhado mostrando: (1) um ambiente favorável para os países emergentes; (2) a manutenção da política monetária acomodatícia nas principais economias; (3) a menor probabilidade de ocorrência de uma recessão global; e (4) o arrefecimento das tensões comerciais entre EUA e China.
  • No encontro de fevereiro, os indicadores de atividade divulgados para dez/19 e os dados antecedentes de jan/20 decepcionaram, de forma que as projeções de crescimento para 2020 começam a ser revistas para baixo. Adicionalmente, a maioria dos manifestantes assinalou discordância com a sinalização pelo Copom da parada na flexibilização monetária. Para essa parcela de economistas haveria espaço adicional para mais reduções na meta Selic. 
  • Alguns analistas presentes manifestaram, ainda, incômodo com o entendimento de que a sinalização do término do ciclo de afrouxamento monetário estaria condicionada à meta de inflação para 2021, dado que as projeções de inflação para 2020 apontam uma boa margem para que a meta de taxa Selic caia abaixo dos atuais 4,25% ao ano.
  • A divergência na avaliação está fundamentada não só no tamanho, mas também na velocidade de fechamento do hiato do produto (PIB corrente – PIB potencial). Entretanto, esse debate é complexo e inconclusivo, pois a apuração desse hiato está associada a variáveis não observáveis e cuja mensuração está sujeita às limitações dos modelos econométricos.
  • A dissonância na forma de interpretar o hiato ficou também expressa no posicionamento dos próprios integrantes do Copom. Uma parcela acredita que a retração da participação do Estado para dar espaço ao setor privado e a longa duração do processo recessivo têm impacto negativo na oferta, reduzindo assim o espaço de ociosidade. Nessa linha, a decepção com a atividade seria uma questão estrutural e não de demanda. 
  • Em concordância com a maior parte dos economistas presentes no encontro, outros participantes do Comitê acreditam que os núcleos de inflação consistentemente abaixo da meta sinalizariam sim um elevado nível de ociosidade. O estímulo monetário adicional seria beneficiado, ainda, pelo caráter deflacionário da crise com a epidemia do Coronavírus na atividade global.
  • No balanço de riscos para a inflação o BC coloca maior peso para a sua elevação, principalmente por causa da maior potência da política monetária com os novos contornos da intermediação financeira, das incertezas quanto aos efeitos defasados da queda da taxa básica de juros e das suas dúvidas na avaliação das variáveis não observáveis.  Entretanto, o maior indicador de ociosidade estará espelhado no desempenho do mercado de trabalho, enquanto não houver alteração significativa no seu ritmo de recuperação as condições da inflação permanecerão confortáveis. Ademais, até então, a trajetória da taxa de câmbio não apresentou impacto relevante nos preços.
  • Um ponto menos comentado, mas que merece monitoramento, refere-se aos potenciais canais de instabilidade financeira que poderão ser propiciados pelo baixo patamar da taxa de juros não acompanhado por um crescimento econômico mais vigoroso, não só no que tange à valorização de ativos, mas também no crescimento do endividamento das famílias conjugado com maior comprometimento da renda. Concluindo, futuramente, novos cortes na taxa de juros básica poderão ser viabilizados se mantidas as evoluções favoráveis da inflação corrente e das medidas de núcleo em um contexto de frágil recuperação econômica. 
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