Com base em encontro com os economistas de mercado e de consultorias, trazemos algumas considerações acerca da avaliação da conjuntura econômica:
- Na ocasião anterior (ago/20) foi levantada alguma preocupação com a trajetória da inflação corrente, ainda que existissem atenuantes como o nível elevado de capacidade ociosa e a retirada de estímulos no 3T20. Assinalada a importância da taxa de câmbio, não só pela cotação, mas também com a duração da pressão cambial e possíveis impactos no repasse de preços e a sua correlação com a percepção do risco fiscal. No que se referia à atividade havia o receio de que a recuperação fosse incapaz de compensar a retirada de transferência de renda que ocorreu para empresas e população mais vulnerável. A reversão das medidas que elevaram o nível de liquidez do sistema, liberaram capital e dispensaram o provisionamento na repactuação dos créditos e de programas como o PEAC-FGI e o Pronampe impactariam a oferta de crédito com impactos nos custos e na qualidade dos ativos. Havia incerteza quanto à evolução da pandemia.
- Na edição atual, as discussões estiveram centradas nas avaliações dos economistas no que tange aos seguintes aspectos: (1) a temporariedade ou não do choque na inflação; (2) expectativa da atividade (PIB) na margem; e (3) cenários da trajetória fiscal.
CHOQUE DE PREÇOS TEMPORÁRIO
- Maior parte dos analistas enxergam o repique inflacionário nos preços ao consumidor como temporário. Contudo, acredita-se que os preços elevados da alimentação se manterão por um algum tempo. Algum desconforto foi levantado como uma eventual recuperação mais rápida da atividade e o surgimento de restrições na oferta em um quadro preocupante dos índices de atacado. Foram também levantadas indagações acerca da inadequação da cesta de bens para a apuração do IPCA com a mudança no padrão de consumo das famílias com a pandemia que poderia estar subestimando a inflação efetiva. Por fim, a “normalização” da política monetária só ocorreria em meados de 2021.
EXPECTATIVA DA ATIVIDADE
- No que tange à atividade houve maiores divergência entre os economistas. O ritmo rápido de recuperação no segundo semestre gera otimismo em uma parte dos analistas, principalmente com o “carrego estatístico” favorável para 2021. A evolução positiva do desenvolvimento de vacinas para Covid-19 no médio prazo mitigaria o risco com uma 2ª onda da pandemia. Entretanto, os analistas enxergam sinais de perda de intensidade na recuperação. Os mais pessimistas assinalam que ocorrerão perdas de renda com a retirada dos estímulos no ano que vem. Foi também assinalada a deterioração na inadimplência fora do setor bancário, que deverá ser refletida na oferta de crédito.
CENÁRIO FISCAL
- A preocupação com a falta de visibilidade do cenário fiscal foi ponto consensual nas considerações, principalmente por causa das incertezas quanto à aprovação das reformas estruturais e seus desdobramentos nas perspectivas da sustentabilidade da trajetória da dívida pública e dos seus impactos nos prêmios de risco na taxa de câmbio e na curva da taxa de juros, consequentemente também na inflação e na atividade.