*Ao contrário de outras crises em que produziu externalidades negativas, o sistema financeiro serviu como instrumento para fazer fluir os recursos na economia e operacionalizar as medidas de auxílio à população desassistida e às empresas com necessidade de caixa, de forma que o mercado de crédito se expandiu consideravelmente.
*Além do estímulo monetário e da injeção de liquidez, as medidas de cunho regulatório e os programas de crédito intermediados pelo governo impediram a sua disfuncionalidade. A solidez do sistema permitiu que a oferta de crédito continuasse avançando mesmo com a deterioração do risco. As medidas regulatórias, que viabilizaram a reestruturação de operações sem elevação nos provisionamentos, atenuaram os efeitos da queda da atividade econômica nos indicadores do mercado de trabalho e no fluxo de caixa das empresas.
*Em outubro, o total dos empréstimos no SFN totalizou R$ 3.871,8 bilhões, o que representou elevações de 1,4% no mês e de 14,5% a.a.. Em relação ao PIB, houve aumentou de 0,5 p.p. no mês para 53,4%.
*Com retração de -0,6% no mês, as concessões totais ajustadas sazonalmente interromperam a série de 4 elevações consecutivas. Movimento que pode significar um arrefecimento no mercado de crédito que dependerá da desaceleração da atividade econômica. As concessões de crédito para PJ apresentaram redução marginal de -4,8% enquanto para PF registraram elevação de 3,2%. Na abertura por fonte de recursos, as concessões ajustadas com RL subiram 2,6% na margem, refletindo as altas de 1,1% para PJ e de 2,9% para PF. Contudo, a trajetória da média móvel trimestral (MM3) das concessões ajustadas indica recuperação.
*Graças à demanda das grandes empresas (GE) no reforço de seus níveis de liquidez no início da pandemia, o crédito concedido para PJ cresceu substancialmente. Em outubro, a carteira de crédito às micro, pequenas e médias empresas (MPMe) exibia crescimento de 32,0% a.a.., enquanto o saldo das GE mostrava expansão de 14,7% a.a.. O impulso das operações com MPMe adveio dos programas de governo, como Pronampe, FGI-PEAC e os créditos direcionados pela liberação adicional de compulsório de poupança.
*Ainda não se percebe deterioração na qualidade dos ativos, embora deva crescer no médio prazo com a retirada dos estímulos regulatórios, dos programas de apoio, e eventualmente monetários com o recrudescimento da inflação, o que poderá piorar as condições na oferta de crédito. Nesse contexto, a taxa de inadimplência manteve sua trajetória cadente, assim como a parcela da carteira PJ considerada de pior qualidade. Por outro lado, a taxa média de juros voltou a apresentar crescimento na margem, assim como o spread médio da carteira.
*A trajetória prospectiva do crédito dependerá da evolução da trajetória da recuperação da demanda agregada, da renda das famílias e, também, do grau de percepção de risco acerca da evolução das contas públicas e seu reflexo no índice de condições financeiras. A expectativa é que em 2020 o total de crédito cresça 13,6%, decomposto em 10,8% para pessoas físicas (PF) e 19,3% para pessoas jurídicas (PJ).