Com base nas avaliações de conjuntura dos economistas de mercado apresentadas em encontro recente, trazemos nossas reflexões acerca das principais avaliações:
•No que se refere à economia internacional, é unânime a percepção de desaceleração da expansão da atividade, principalmente por causa dos impactos da variante delta na Ásia, com desdobramento nas cotações das commodities. A nosso ver é baixa a probabilidade de que esse quadro diminua de forma relevante a pressão inflacionária, principalmente por causa dos gargalos existentes na oferta agregada.
•A inflação corrente elevada nos EUA ainda é entendida pela maioria como um fenômeno transitório, tese que se ratificada não demandaria no médio prazo uma elevação na taxa de juros. Entretanto, há possibilidade de inércia na dinâmica inflacionária que poderá demandar uma resposta monetária. Ademais, a expectativa dos analistas é de que o “tapering” seja iniciado ainda no último trimestre de 2021.
•A conjugação desses fatores sinaliza, a depender da intensidade, alguma pressão sobre a trajetória da taxa de câmbio do real. Apesar de o cenário base dos economistas ainda não contemplar uma ruptura no regime fiscal, são significativas as preocupações com a evolução das contas públicas e com os estratagemas para contornar o “teto de gastos”, com impacto direto no aumento nos prêmios de risco embutidos na precificação dos ativos.
•Com a deterioração nos indicadores das condições financeiras, a taxa básica de juros caminhando para além do seu nível neutro e a perda do impulso do cenário externo, aguarda-se uma moderação da recuperação da economia doméstica, de modo que as projeções de crescimento do PIB em 2022 deverão convergir para 1,5%.
•Com uma Selic fechando o ano entre 7,0% e 8,0% a.a., as projeções do IPCA apontadas variaram entre 7,0% e 7,5% em 2021 e 3,5% e 4,0% para 2022. Dessa forma, a percepção negativa do balanço de riscos para a inflação está disseminada, principalmente pelo longo caminho de desinflação necessário para a convergência à meta.
•Como a inflação corrente está fundamentalmente reproduzindo os impactos dos choques de oferta nos preços de alimentação, energia, combustíveis e bens industriais, existe a possibilidade de que sejam dissipados de forma rápida. Nessa linha, dada a credibilidade adquirida pelo Banco Central, há receio que a comunicação excessivamente dura de que se fará o que for necessário para se atingir as metas de inflação pode se mostrar exagerada no que tange aos custos para a atividade. Apesar dessa sinalização, as expectativas inflacionárias permanecem relativamente estáveis acima da meta. Por fim, acreditamos que no processo desinflacionário não possam ser desprezados os efeitos da inércia resultante de uma significativa alteração dos preços relativos, agravada agora com aceleração dos preços de serviços.