Reagindo às diretrizes da política monetária do Banco Central (BC), houve em 2023 uma significativa desaceleração no crescimento do crédito. O avanço dentro do sistema financeiro nacional (SFN) recuou de 14,5% a.a. em dez/22 para 7,9% a.a. e o aumento das concessões acumuladas em 12 meses (12m) saiu de uma taxa de 20,7% a.a. para 4,7% a.a. em dezembro.
Porém, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) assinalou que embora as condições monetárias se mantenham restritivas, com o início do ciclo de afrouxamento monetário, já são observados sinais incipientes de recuperação. Já é constatada uma aceleração na concessão de crédito em algumas modalidades, como por exemplo a antecipação de faturas de cartão para pessoas jurídicas (PJ) e o financiamento de veículos para pessoas físicas (PF). Apontou, ainda, a redução das taxas de juros nos novos empréstimos de 30,1% a.a. em dez/22 para 28,4% a.a., ante uma redução da Selic de -2,0 p.p. no mesmo período. Por fim, também destacou um maior dinamismo no mercado de capitais, como indicou as operações com títulos securitizados que saíram de uma taxa de crescimento de 20,8% a.a. em set/23 para 28,6% a.a. em dezembro.
Para o Comef, as carteiras de crédito das instituições financeiras (IFs) mantêm um retorno positivo e o SFN está preparado para enfrentar a materialização de riscos. Pelo fato de que o estoque das operações foi constituído em um ambiente com taxas de juros mais altas, o Indicador do Custo de Crédito (ICC) com RL elevou-se em 0,4 p.p. em 2023, finalizando o ano em 31,0% a.a.. Assim, o spread médio neste conceito subiu 0,3 p.p. no mesmo período para 21,6 p.p..
O risco de crédito continua elevado nas operações com micro, pequenas e médias empresas (MPMe), com a taxa de inadimplência fechando em 4,1% e um aumento de 0,9 p.p. no ano. Mesmo com uma elevação de 0,6 p.p. em 2023 para 0,7%, após a dissipação do impacto de uma grande ocorrência no início do ano, a trajetória do indicador para as grandes empresas (Ge) já apresenta uma inflexão. No segmento para PF, a tendência é favorável em algumas linhas de maior risco, com a queda anual de -1,6 p.p. nas operações de crédito não consignado, de -0,7 p.p. nas de composição de dívidas e estabilidade nas de cheque especial. As exceções ficaram com os aumentos de 8,8 p.p. no crédito rotativo e de 2,2 p.p. no parcelado. Ademais, o Comef julga que as provisões para perdas de crédito e os níveis de liquidez e de capital das IFs se mantêm adequados.
Com queda na margem, o nível de provisões apresentou baixa variação. No encerramento de 2023, os números eram de 7,2% para as IFs privadas nacionais (7,1% em dez/22), de 5,9% para as estrangeiras (6,0% em dez/22) e de 5,1% para as públicas (5,4% em dez/22). Diante dos riscos relacionados à atividade econômica e ao endividamento das famílias e das empresas de menor porte, o Comef apregoa que as IFs prossigam preservando a qualidade das concessões. Neste cenário, no aguardo de maiores evidências de uma efetiva melhora em sua dinâmica, a Assessoria Econômica da ABBC ainda espera que o avanço do crédito se acomode no mesmo patamar verificado em 2023.
Boa leitura!
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One comment on “Termômetro do Crédito – No aguardo”
Matéria muito boa. Parabéns!