O momento atual mostra-se um tanto quanto insólito, pois há uma coincidência de uma piora considerável nas expectativas com uma dinâmica benigna da inflação corrente. A elevação moderada das projeções, a partir da alteração das metas fiscais, ganhou ímpeto com o descarte da orientação futura em um momento de pico na volatilidade internacional, o dissenso na decisão na taxa básica de juros, os receios com uma alteração na meta inflacionária e uma reorientação da política monetária. Com muitos fatores complicadores para um ajuste fiscal, o processo de reancoragem deverá ser lento e dependente de algumas variáveis, como a evolução do índice cheio e das medidas subjacentes da inflação e o impacto de uma eventual queda de juros nos EUA na taxa de câmbio. No horizonte relevante, as projeções para o IPCA no Boletim Focus eram de 3,75% para 2025 (3,60% há 1 mês). Apesar do aumento da desancoragem e das apostas no mercado futuro de juros, o Focus mantém ainda estimativa de 2 cortes de -0,25 p.p. na Selic em 2024, para fechar o ano com uma taxa de 10,00% a.a.. Porém, como indicadores que compõem a formação de expectativas e os prêmios de risco, as projeções dos números fiscais não sofreram deterioração significativa, ainda que estejam acima das metas. Reiterando as incertezas em relação ao grau do aperto monetário, a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed) mostrou os receios de seus dirigentes com a ausência de progressos na desinflação nos EUA, sobretudo nos núcleos de serviços. Com a necessidade de que sejam obtidas várias leituras consecutivas com números favoráveis ao processo de desinflação, o início do processo de ciclo de flexibilização monetária só poderia ocorrer no 4T24. Assim, em 24/05, a ferramenta FedWatch do CME Group apontava 50,2% de chance de manutenção da Fed Funds na reunião de setembro, uma probabilidade de 46,2% para uma queda de -0,25 p.p. em novembro e de 41,9% para a manutenção em dezembro na faixa entre 5,00% e 5,25% a.a.. Em linha com esse cenário, o dólar ganhou força na semana no mercado de câmbio internacional. Com o mercado de opções para o Comitê de Política Monetária (Copom) indicando 79,25% de chance de manutenção da Selic no atual patamar, a taxa real de juros ex-ante ficou em 6,68% a.a., o que representou uma elevação de 0,12 p.p. na semana. Atendendo o objetivo do Copom, o indicador se tornou mais restritivo, acumulando um crescimento de 0,23 p.p. desde a última reunião em 08/05. Apesar do aumento nos prêmios, a arrecadação federal em abril surpreendeu, refletindo o bom momento da atividade econômica e as medidas tributárias aprovadas ao final de 2023, acumulando dessa forma uma alta real de 8,3% em relação a abr/23. O Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 2º bimestre do governo indicou um déficit de menor magnitude em relação ao projetado pelo mercado, ainda que maior ao apresentado no 1º bimestre. Em relação às contas externas, os números seguem indicando um quadro confortável. Por fim, a intenção de consumo das famílias registrou crescimento pelo 2º mês seguido, com a variação anual voltando a acelerar pela 1ª vez desde set/23, mantendo-se acima do nível de satisfação. Em um contexto de maior preocupação com as expectativas inflacionárias, ganha importância os dados da inflação ao consumidor e no atacado, assim como da evolução do mercado de trabalho, e indiretamente, do hiato do produto, que serão divulgados esta semana. Ainda para esta semana, destaques para a reunião do Conselho de Estabilidade Financeira (Comef), os indicadores de confiança do consumidor local, nos EUA e na Zona do Euro e para o PMI manufatura e serviços na China.
Boa leitura!