•Com base em informações levantadas até o 1º semestre, o Banco Central (BC) divulgou o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) de novembro, apresentando as suas perspectivas para a estabilidade financeira, com foco na análise das principais variáveis e riscos para a resiliência do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Esse cenário mostra-se de extrema valia para uma avaliação prospectiva que se faz necessária com a forte alteração nas condições financeiras e a depreciação da taxa de câmbio que demanda cautela e diligência adicionais no mercado de crédito.
•Acompanhando o surpreendente desempenho da atividade no período, o mercado de crédito apresentou um crescimento robusto, tanto nas modalidades para Pessoas Físicas (PF) como nas Pessoas Jurídicas (PJ), resultante também do aumento do apetite ao risco das instituições financeiras (IFs). No mercado de capitais, a performance foi ainda mais notável, com as PJ aproveitando-se da liquidez para aprimorar a gestão de caixa, investir em infraestrutura e reduzir suas dívidas.
•A aceleração do crédito bancário nas modalidades para PJ deu-se principalmente no segmento das Grandes empresas (Ge), com destaque para as operações de comércio exterior e financiamentos destinados à infraestrutura. Com limitações na capacidade de pagamento, houve um crescimento nos pedidos de recuperação judicial de Micro, Pequenas e Médias empresas (MPMe), que tendem a aumentar com a taxa de juros em patamar ainda mais contracionista e o provável desaquecimento da economia.
•Impulsionadas pela dinâmica econômica favorável e pelo aumento do apetite ao risco das IFs, o crédito bancário às PF acelerou no 1º semestre, com destaque para as modalidades para o crédito rural, o financiamento de veículos e o crédito não consignado. Mesmo com um cenário econômico favorável advindo da melhora da renda e a redução da taxa de desocupação, a capacidade de pagamento das PF demanda atenção redobrada, notadamente a partir do início do ciclo de aperto monetário e da deterioração das condições financeiras.
•Apesar da desaceleração no crescimento, os bancos digitais ainda apresentavam no 1º semestre um dinamismo bem maior do que o dos seus pares. Da mesma forma, a expansão e o maior alcance dos canais e das plataformas de distribuição têm propiciado uma redução na concentração das captações. Assim, a participação dos bancos privados do segmento S1 nas captações diminuiu no período. Este movimento tem contribuído para um ambiente mais competitivo e para a redução das taxas de juros praticadas pelos segmentos de menor porte. Porém, este movimento tende a se acomodar com as mudanças regulatórias para a emissão de Letras de Crédito Imobiliários (LCIs) e de Crédito Agropecuário (LCAs) e limites de alavancagem na utilização do uso da garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
•Ao longo do semestre, o sistema demonstrou uma recuperação consistente em sua rentabilidade, sustentada pela redução da pressão sobre as despesas com provisões, pelo crescimento do resultado de juros provenientes das operações de crédito e pela reaceleração das receitas de serviços. A eficiência operacional também exibiu ganhos, com a desaceleração na elevação das despesas administrativas e a recuperação das receitas de serviços. Finalmente, a capitalização continuou robusta, apesar de uma leve queda, mantendo-se significativamente acima dos requisitos regulatórios mínimos. Para o BC, o sistema demonstrou capacidade de absorver os impactos dos aprimoramentos na regulação prudencial que entrarão em vigor em 2025. Dentre as mudanças, destaques para: implementação do arcabouço prudencial para conglomerados liderados por instituições de pagamento (IP); os novos procedimentos para cálculo do risco operacional (RWAOPAD); mudanças na metodologia de apuração da provisão para perdas esperadas associadas ao risco de crédito (Resolução CMN 4.966/2021); a implementação da Lei 14.467 /2022; e as novas regras para contabilização de instrumentos financeiros (IFRS 9 e IFRS 7).