O Relatório sobre Estabilidade Financeira do Banco Central descreve um cenário positivo do sistema bancário para o 1º semestre. Em termos consolidados, observou-se a conjugação de um nível de liquidez adequado com o aumento da capitalização e da rentabilidade. Esse cenário foi favorecido fundamentalmente pela redução das despesas com provisões e pela a aceleração das concessões de crédito com a retomada acelerada da economia. Por fim, os resultados dos testes de estresse ratificam a solidez e resiliência do sistema
Esse quadro é compartilhado pelas instituições financeiras, de modo que se mostram confiantes na estabilidade, inclusive com redução das suas preocupações com o comportamento da inadimplência e atividade. Adicionalmente, houve equiparação dos riscos relatados com o cenário externo e com o fiscal. Entretanto, essa percepção alterou-se no 2º semestre, com a deterioração de cenário interno e externo, não só no balanço de riscos para a inflação, como também para a perda de tração da economia.
Influenciado pela redução das incertezas e pelo redimensionamento de medidas governamentais, o crescimento das captações desacelerou. Houve alterações relevantes no seu perfil, com a queda de representatividade dos investidores não residentes e institucionais. O estoque de funding externo em US$ manteve-se praticamente estável, enquanto os spreads das taxas de captação em relação aos DIs reduziram-se, mesmo com a elevação da Selic, resultando em um menor custo de carregamento dos ativos líquidos.
Os diferentes tipos de crédito que compõem o crédito amplo apresentam crescimento condizente com o ambiente econômico. Os empréstimos para as pessoas físicas (PF) beneficiaram-se das baixas taxas de juros, enquanto para as pessoas jurídicas (PJ) vê-se acomodação. Entretanto, mesmo com o fim de grande parte dos programas emergenciais, o crescimento do estoque é garantido pelo segmento de micro, pequenas e médias empresas (MPME), enquanto a expansão anual para as grandes (GE) é praticamente nula.
No que se refere à qualidade dos ativos, o percentual de Ativos Problemáticos (AP) apresenta-se em nível confortável, contudo muito em função do crescimento da carteira em um ritmo mais intenso. As repactuações e reestruturações regulatórias dos empréstimos amorteceram os efeitos negativos da crise. Desde o seu início, 30% da carteira de crédito foi repactuada e desse total 69% das operações já se encontravam curadas, retornando ao fluxo normal de pagamentos. Porém, para PJ, a recente deterioração do cenário deverá influenciar negativamente as concessões e por consequência o indicador de AP. O indicador para PF deverá tirar proveito do desempenho mais vigoroso, porém o crescimento acelerado do endividamento das famílias combinado com a elevação da inflação e a anemia dos números no mercado de trabalho preocupa.
A rentabilidade do sistema bancário retornou ao nível pré-pandemia, com a inadimplência sob controle e a materialização de perdas aquém da esperada. Também contribuíram para o aumento da rentabilidade, a retomada das receitas com serviços e as despesas administrativas crescendo abaixo da inflação. Vale ponderar que, no curto prazo, a deterioração das condições financeiras tende a pressionar o custo de captação e a margem de crédito, principalmente se o cenário levar a um mix de concessões concentrado em linhas de menor risco e taxas de juros.